A campanha Setembro Amarelo é uma oportunidade para refletirmos sobre a saúde mental no ambiente de trabalho, especialmente entre profissionais técnicos e operacionais. Esses grupos, muitas vezes invisibilizados nas pautas de bem-estar, enfrentam desafios únicos que merecem atenção e estratégias específicas de cuidado.

A EngSearch, como parceira de empresas nos setores industriais e de engenharia, entende que promover saúde mental não deve ser apenas em campanhas pontuais. É uma necessidade contínua, que impacta diretamente a produtividade, a retenção de talentos e, acima de tudo, a vida das pessoas.

Neste artigo, reunimos reflexões práticas sobre como apoiar de forma genuína a saúde mental em equipes técnicas e operacionais.

Por que o Setembro Amarelo deve estar na pauta das empresas?

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no mundo. No Brasil, são cerca de 14 mil casos anuais, o que torna o suicídio a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. E para cada vida perdida, há muitos outros episódios de tentativa e sofrimento psíquico silencioso. 

Ainda mais alarmante é o dado da Associação Brasileira de Psiquiatria: 96,8% dos casos de suicídio estão associados a transtornos mentais tratáveis, como depressão e ansiedade. Esses números evidenciam a urgência de iniciativas como o Setembro Amarelo, campanha nacional de prevenção ao suicídio criada em 2015 pela ABP em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), alinhada a movimentos globais de conscientização sobre saúde mental.

No ambiente de trabalho, esse debate precisa ser mais do que simbólico. Fatores como pressão constante por resultados, metas rígidas, vínculos empregatícios precários, jornadas exaustivas, assédio moral e a ausência de apoio emocional estruturado estão entre os principais agravantes do adoecimento mental entre trabalhadores. 

Em áreas técnicas e operacionais, como engenharia, manufatura, logística e tecnologia, o risco é ainda maior, pois são contextos em que, muitas vezes, há menos espaço para diálogo emocional e menos visibilidade para políticas de bem-estar.

Por que falar sobre saúde mental nas equipes técnicas e operacionais?

Quando se fala em saúde mental nas empresas, é comum que as iniciativas estejam mais focadas em áreas administrativas e de liderança. Porém, operários de chão de fábrica, técnicos de manutenção, analistas de processos, supervisores de produção e tantos outros profissionais da linha de frente enfrentam pressões que não podem ser ignoradas.

Ritmo intenso, trabalho repetitivo, exposição a riscos físicos e alta cobrança por produtividade formam um cenário propício ao desgaste emocional e psicológico. Soma-se a isso o fato de que muitas vezes esses profissionais têm menos acesso a informações e recursos sobre autocuidado e apoio psicológico.

Deixar de cuidar da saúde mental nesse grupo impacta diretamente a performance da operação, aumenta o turnover e os afastamentos por problemas de saúde, além de afetar o clima organizacional como um todo.

Quais são os principais sinais de alerta?

O sofrimento mental nem sempre é visível, mas ele dá sinais. Em equipes técnicas e operacionais, alguns comportamentos podem indicar que algo não vai bem:

  • Quedas repentinas de produtividade
  • Afastamentos frequentes
  • Agressividade ou irritabilidade
  • Falta de concentração
  • Baixa participação ou isolamento
  • Erros recorrentes em tarefas simples
  • Queixas constantes de cansaço físico ou emocional

Nem sempre os colaboradores têm clareza sobre o que estão sentindo. Muitos têm dificuldade em nomear emoções ou sequer se sentem confortáveis para falar sobre isso no trabalho. Por isso, cabe à liderança, especialmente aos supervisores e coordenadores diretos, criar um ambiente seguro para o diálogo e estar atento a mudanças no comportamento.

Barreiras culturais: por que ainda é difícil falar sobre isso?

Uma das maiores barreiras para cuidar da saúde mental em equipes técnicas é a cultura da resistência. Muitos profissionais foram ensinados que demonstrar cansaço, tristeza ou insegurança é um sinal de fraqueza. Em áreas historicamente masculinas e operacionais, o estigma é ainda mais forte.

Essa cultura do “aguentar firme” impede que as pessoas peçam ajuda, e faz com que a empresa só perceba o problema quando ele já se transformou em uma crise, como um afastamento por burnout ou um acidente provocado por exaustão.

Romper essa lógica exige um trabalho consistente de conscientização, acolhimento e mudança de postura por parte da liderança e da empresa como um todo.

O papel da liderança direta no cuidado com a saúde mental

Supervisores, líderes de turno e coordenadores operacionais são peças centrais nesse processo. São eles que convivem diariamente com as equipes e percebem antes de qualquer outro setor quando algo está fora do esperado.

Mas para que essa liderança atue de forma efetiva, ela também precisa de preparo. Investir em formações básicas sobre escuta ativa, inteligência emocional e primeiros cuidados psicológicos pode transformar a forma como os líderes se comunicam com seus times.

Além disso, é importante que a liderança:

  • Esteja disponível e acessível;
  • Reconheça esforços e conquistas;
  • Respeite os limites físicos e emocionais da equipe;
  • Esteja aberta a conversar sem julgamentos;
  • Saiba direcionar os colaboradores para os canais de apoio adequados (RH, psicólogos, planos de saúde etc.).

Iniciativas práticas para apoiar a saúde mental dessas equipes

A seguir, listamos algumas estratégias que podem ser aplicadas no contexto da operação, respeitando as dinâmicas da rotina técnica:

1. Rodas de conversa com mediação

Realizar encontros curtos e regulares com pequenos grupos de colaboradores, conduzidos por profissionais de RH ou psicólogos parceiros, pode ser uma forma simples de promover escuta, acolhimento e fortalecimento de vínculos.

2. Treinamentos sobre autocuidado e saúde emocional

Adaptar conteúdos de saúde mental à linguagem do público é importante. Evite termos excessivamente acadêmicos e prefira exemplos do cotidiano. Use situações fictícias próximas da realidade da operação, como o estresse por metas ou a dificuldade de dormir após longos turnos.

3. Escuta ativa como rotina

Crie canais internos, formais ou informais, para que os profissionais possam relatar dificuldades. Pode ser uma caixa de sugestões anônima, um plantão psicológico ou mesmo a rotina de feedback com a liderança.

4. Revisão das jornadas e pausas estratégicas

A sobrecarga física está diretamente ligada ao esgotamento mental. Avaliar jornadas, escalas e pausas de descanso é uma medida concreta de cuidado.

5. Integração com benefícios de saúde

Garanta que os colaboradores saibam usar os benefícios disponíveis. Muitas empresas oferecem atendimento psicológico pelo plano de saúde, mas poucas comunicam isso de forma clara e acessível.

Cuidados que começam antes: seleção e onboarding

A forma como a empresa se comunica com os candidatos e conduz o onboarding também impacta a saúde mental. Profissionais técnicos e operacionais precisam entender desde o início que estão entrando em uma cultura que valoriza o cuidado e o respeito às pessoas.

Um processo seletivo transparente, com expectativas claras e integração humanizada, já demonstra esse compromisso. E isso não exige grandes investimentos, apenas intencionalidade.

Setembro Amarelo é só o começo

A campanha de prevenção ao suicídio não é apenas em casos extremos, é sobre criar uma cultura em que as pessoas não precisem chegar ao limite para serem ouvidas. Investir na saúde mental das equipes técnicas e operacionais é uma questão de responsabilidade humana e também de estratégia de negócio.

Quando as pessoas se sentem cuidadas, elas produzem melhor, erram menos, permanecem mais tempo e influenciam positivamente todo o time.

Em um setor como o industrial, em que o conhecimento prático e a experiência contam muito, cuidar da saúde mental é também preservar o capital humano mais valioso da operação.

Você não precisa esperar o próximo Setembro Amarelo para começar a agir. Promover saúde mental em equipes técnicas começa com mudanças simples, como uma escuta atenta, uma pausa respeitada, uma escala bem planejada.

E, principalmente, com a consciência de que cada pessoa na operação importa, e que um ambiente mais saudável se constrói no dia a dia, nas pequenas atitudes.

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